Antes era só na América do Norte, na Europa, no Oriente Médio, agora aconteceu no Brasil. A tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, comoveu o país pelo número de mortos, por ser contra crianças e pelo cenário, uma escola. O assassino era um ex-aluno e várias hipóteses são apresentadas para justificar a barbárie. Segundo informações iniciais, ele era filho biológico de uma mulher com problemas mentais. Tímido, na infância teria sofrido exclusão pelos colegas. Psicólogos, especialistas em segurança, jornalistas, curiosos, todos tentam explicar, muitos tentam consolar, mas após secar as lágrimas, chega o momento das reflexões e medidas objetivas para que fatos semelhantes não ocorram ou, sejam no mínimo atenuados.

Inicialmente vale lembrar que a violência escolar já estampa o noticiário cotidiano. Como em cada caso o número de vítimas não é tão grande, não nos atentamos para a gravidade. A escola já foi como um templo. O templo do saber e um dos locais mais seguros. Hoje sofre a invasão de traficantes, bandidos e vândalos. A violência atinge de modo recíproco alunos e professores. O combate às práticas de bullying ainda é incipiente. Nos últimos anos especialistas apontavam a necessidade de abrir as escolas, reduzir muros e permitir o acesso da comunidade. Hoje vozes sugerem muros altos, detectores de metais, revistas pessoais e policiais nos portões.

A saúde pública, em especial a saúde mental é outro ingrediente explosivo. A estimativa é de que cerca de 3% da nossa população possui transtornos persistentes e severos. São neuroses graves, transtornos de humor, deficiência mental e psicoses que atingem mais de 5 milhões de brasileiros que carecem de um atendimento demorado e complexo. Profissionais desse setor são abnegados, a rede pública recebe poucos investimentos e muitos pacientes não recebem o tratamento adequado.

Mais um componente da tragédia é o uso indiscriminado de armas de fogo. Estima-se que 16 milhões de armas estão em circulação pelo país, sendo que metade de modo ilegal e apenas pouco mais de 2 milhões nas mãos das forças oficiais de segurança. Como alguém pode ter duas armas, tanta munição e utilizá-las com tanta habilidade?

Educação, saúde e segurança, três das maiores preocupações da população e que, apesar do considerável recurso financeiro despendido, não demonstram na prática a efetividade das políticas públicas e ações estatais.

É claro que não devemos culpar apenas o Estado. O indivíduo, o núcleo familiar, o grupo social também são responsáveis. Uma sociedade excludente, onde crescem os fundamentalistas e os fanáticos, os xenofóbicos e os neonazioas, ainda impera a corrupção, o desequilíbrio social e econômico gera pessoas capazes desta e de outras atrocidades.

Que possamos aprender com essa tragédia, mais uma dura lição da vida sobre o mundo que estamos construindo, a sociedade que temos e a que realmente queremos.