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domingo, 11 de maio de 2014

Artigo Jornal Tribuna 11.05.2014

                           Dia de Todas as Mães


O Dia das Mães é celebrado em vários países e em datas distintas. No Brasil, assim como nos Estados Unidos, Itália, Japão e Turquia, a data escolhida foi o segundo domingo de maio. Desde os bancos escolares aprendemos a fazer homenagens as mães. Seja por meio de desenhos, flores, versos, lembranças materiais ou um simples beijo, teoricamente todas as mães são lembradas. Aliás, o bombardeio midiático do comércio colabora até mesmo com os filhos distraídos para que não se esqueçam de adquirir o melhor presente. 
Cabem aqui algumas reflexões. Quantas mães efetivamente estão celebrando o seu dia? Quantas receberão presentes? Quantas reúnem motivos para festa?
Em 20 anos, entre 250 mil e 500 mil mulheres foram estupradas em Ruanda e dessas violações, teriam nascido 200 mil crianças. Quantas mães foram vítimas de estupro e geraram filhos em todo o mundo?  A coragem de gerar uma vida, fruto de uma violência tão grave merece ou não homenagem?     
Existe estatística real sobre o número de mães que tiveram a dolorosa experiência de enterrar seus filhos em razão da violência nos morros cariocas, na periferia de Salvador, São Paulo ou mesmo Ribeirão Preto?  Segundo o CEBELA (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos), entre 1980 e 2010 foram assassinados 386.983 jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. É possível visualizar as milhares de mães debruçadas sobre os caixões de seus filhos? Neste domingo as flores que carregarão nas mãos provavelmente serão depositadas em seus túmulos.
Segundo a UNICEF mais de 1,2 milhões de crianças são anualmente vítimas de tráfico humano, elas se juntam às que estão desaparecidas em razão de raptos, fugas, pedofilia, prostituição e crimes em geral. Neste dia das mães, como dimensionar a dor da incerteza? Seria ela maior que a esperança de um dia reencontrar o filho amado?
E as mães que abortaram? Seja por pressão familiar, seja por medo da condenação social ou por simples opção, elas não levaram a termo uma gravidez que passou a ser indesejada. Como fica o coração dessas mulheres?
As mulheres que não conseguiram segurar a gravidez e as que abortaram por erro médico ou falta de assistência adequada. Que não receberam a estrutura obstétrica necessária ou que foram submetidas a laqueaduras ou processos de esterilização diversos sem o devido consentimento, estarão celebrando ou estarão sentadas solitárias em um quarto, contemplando parte do enxoval que jamais foi usado e que carinhosamente está guardado para um filho que jamais usará?
Não nos esqueçamos das mães que estão nos asilos, nas clínicas de recuperação e nos hospitais. Alguém vai presentear as mães que pelos mais variados motivos estão encarceradas? E as mães usuárias de drogas, que perambulam pelas ruas e becos? Quem as visitará? Receberam ao menos nossa oração e solidariedade?
Lembremo-nos das mães que estão trabalhando nas mais variadas atividades e não terão como comemorar com os filhos. Também das mães que vivem em condições precárias entre as quais as mães sem terra, mães sem teto, mães sem nada. Ainda, uma categoria que se aproxima da santidade é a das mães de crianças com deficiências múltiplas e graves e que devotam um amor extremo aos filhos.

Existem tantas categorias de mães excluídas que talvez este próprio texto tenha negligenciado alguma. Aliás, seu objetivo não foi deprimir ninguém, ao contrário, além de recordar as mães muitas vezes esquecidas, ele tem a humilde pretensão de incentivá-lo a terminar a leitura deste agradável jornal e pegar o telefone e ligar para sua mãe distante. Se possível, pegar uma condução e correr para onde está sua mãe. Ir ao templo ou ao cemitério e homenagear a mãe falecida e acima de tudo, agradecer o dom da sua vida, que só foi possível porque você teve uma mãe.