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domingo, 13 de abril de 2014

Artigo Jornal Tribuna em 13.04.2014

Sem bolo nem velas!

Geralmente comemoramos fatos agradáveis como formaturas, aniversários natalícios, de casamentos, bodas de forma geral. Este mês a principal comemoração não tem bolo, vela ou festa. O Brasil recorda os 50 anos de um golpe de Estado que maculou definitivamente sua história ao derrubar um governo democraticamente eleito.
Como integrante da geração nascida entre 1964 e 1985 percebo a dificuldade que muitos possuem para compreender o que realmente motivou a ação militar.  Os brasileiros foram acostumados com o discurso de que o golpe foi para preservar o país e somente agora os professores e historiadores podem dizer de modo aberto que o Brasil foi vítima de uma reação conservadora daqueles que não concordavam com as mudanças prometidas pelo presidente João Goulart, associado ao intervencionismo norte-americano que o fortalecia na Guerra Fria. Aquele golpe contou com o apoio da burguesia industrial, de latifundiários, parte considerável da classe média e dos setores conservadores da Igreja.
O início da década de 1960 era de intensa luta popular e na ordem do dia estava a reforma agrária, a reforma urbana e financeira. O movimento dos trabalhadores exigia liberdade sindical e o direito de greve, bandeiras, aliás, presentes em muitas manifestações atuais. Não só nosso país, mas toda América Latina, foi vitimado por golpes e imposição de ditaduras militares que se fortaleciam em nome do "interesse da segurança nacional" em tempos de crise.
Inegável também a manobra externa que condicionou o país à dependência política, econômica, comercial e tecnológica, além da submissão financeira ao FMI. A Campanha patrocinada pela imprensa foi tão grande que até hoje ouvimos vozes desavisadas defendendo que “naquele tempo era melhor”.
Até mesmo os que hoje protestam pelas ruas e parlamentos, muitas vezes sem saber qual bandeira empunham, devem saber que a liberdade de expressão somente é possível hoje, graças à resistência de centenas de heróis, muitos anônimos, que enfrentaram o regime e foram submetidos à toda sorte de humilhações, sevícias, torturas e mortes. Muitos considerados loucos foram internados em clínicas psiquiátricas, vários jamais conseguiram retomar suas vidas, após as intermináveis sessões na Cadeira do Dragão, espécie de cadeira elétrica onde os presos nus recebiam descargas elétricas, no velho Pau-de-arara adaptado da época da escravidão, nos Choques Elétricos em órgãos genitais, nos Espancamentos Diversos, no Soro da Verdade, nos Afogamentos e na Geladeira.
É evidente que a democracia precisa de aperfeiçoamento constante. Não estamos no estágio ideal e muitas mudanças, ainda, são necessárias, mas certamente é preferível uma democracia com problemas que uma ditadura perfeita. Como relatei no início, ao celebrar o cinquentenário do Golpe, não temos bolo, nem velas, aliás, as únicas velas são aquelas depositadas nos túmulos dos mortos ou nos memoriais aos desaparecidos que sequer conquistaram a possibilidade de um sepultamento digno.