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servidor público, advogado, radialista

domingo, 26 de janeiro de 2014

Artigo Jornal Tribuna em 26/01/2013

Está faltando humildade


Diariamente, surgem especialistas, entendidos e teóricos que apresentam críticas contumazes a tudo e a todos, indicam soluções infalíveis, teorias mirabolantes e fórmulas mágicas. Em alguns casos possuem formação acadêmica para respaldar suas manifestações, em outros a experiência acumulada lhes atribuem o título de autodidatas. Para essas “sumidades”, o fim da fome e das desigualdades sociais, a paz mundial são metas fáceis de serem alcançadas. Os problemas econômicos também seriam superados com poucas medidas. A conquista da copa do mundo, o aumento do PIB, a queda da inflação, a redução das filas da saúde, as melhorias dos indicadores da educação, a eliminação dos buracos da cidade, o tratamento integral do esgoto e a redução da falta de água, possuem remédios simples de serem aplicados. Os experts estão sempre nos telejornais, nas revistas e nos editoriais. A cada fato ou a cada medida adotada por quem está na liderança de determinado setor, eles são convocados a comentar e raramente são generosos. Uma coisa que sempre me intrigou foi o que ocorre quando o “sabe-tudo” tem uma chance real de promover as mudanças que tanto alardeiam!

Veja o exemplo dos comentaristas esportivos que ao aceitarem o convite para dirigir equipes acabam tendo resultados pífios. E os críticos musicais que sequer dominam um instrumento e conseguem cantar duas notas sem desafinar! Somam-se a estes os especialistas econômicos que ao assumirem ministérios ou secretarias apresentam planos bizarros. Sem esquecer os cientistas políticos que não conseguem sequer vencer um pleito municipal e quando nomeados para cargos em comissão fazem atuações decepcionantes. A massa crítica é muito importante e pode colaborar de modo relevante para o desenvolvimento de uma sociedade, porém quando utilizada apenas para interesses eleitoreiros ou econômicos é extremamente prejudicial à coletividade. Entre o querer e o poder, entre o falar e o fazer, existe um longo caminho a ser trilhado e para seguir em frente é indispensável: a humildade. Característica marcante nos grandes e verdadeiros líderes, parece um artigo raro no mercado onde a arrogância e a prepotência estão entre os pratos do dia.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Artigo Jornal Tribuna em 19/01/2014

Metralhadoras, Analgésicos ou Bom Senso?




Saúde e Segurança são temas sempre elencados entre as maiores preocupações dos brasileiros, também são os preferidos nas campanhas eleitorais e nas manchetes sensacionalistas em rádio, jornal, televisão e agora nas mídias sociais. O bombardeiro diário que recebemos sobre as mazelas dos dois setores acabam criando um misto de impotência e revolta que incentiva o clima de guerra encontrado nos serviços de Saúde de todo país. Ocorre que poucos param para refletir que as dificuldades econômicas, a desestruturação das famílias, o aumento do consumo de álcool e drogas, as barbaridades no trânsito, o sexo descompromissado, a violência urbana, a falta de higiene pessoal e coletiva, enfim, tudo deságua na porta da rede de saúde. Sim! Se o cidadão não cuida do seu quintal e o mosquito da dengue se prolifera, o resultado será unidades de saúde lotadas. Se o marido agride a mulher, se o motorista bebe antes de dirigir, se um grupo de amigos resolve promover uma festinha regada a cocaína ou crack, onde estas histórias vão terminar? Certamente no atendimento à saúde. Assim, por mais profissionais que sejam contratados e por mais unidades que sejam construídas, parece que a necessidade é sempre maior que a oferta. Diante desta crescente demanda uma das respostas dos técnicos da saúde foi a Política Nacional de Humanização que entre suas diretrizes prevê a priorização do acolhimento, uma postura ética na escuta dos problemas dos usuários do sistema. Também, a classificação de risco como forma de organização das filas de espera priorizando os que mais necessitam de atendimento. Outras estratégias precisam ser aperfeiçoadas, entre as quais a educação e orientação da população de como melhor utilizar os serviços. Outro problema recorrente que precisa ser enfrentado é a elevada quantidade de agressões, ofensas, roubos e furtos que vitimizam os profissionais da saúde. Na prática, os cuidadores estão precisando de cuidados. Como exigir que um trabalhador humilhado, ameaçado ou agredido utilize em plenitude seus conhecimentos e técnicas para minorar o sofrimento do adoentado. Diariamente, perdemos profissionais que se recusam em trabalhar em determinadas regiões, posicionamento compreensível já que ninguém quer perder a vida ou o patrimônio material adquirido a duras penas.  A quantidade de trabalhadores da saúde afastados por stress, depressão, síndrome do pânico ou em razão de agressões é crescente. Além da repactuação do financiamento que sacrifica municípios polos como Ribeirão Preto, devemos garantir mudanças estruturais, físicas e arquitetônicas que possibilitem maior conforto e segurança dentro das unidades de saúde como forma de garantir bem-estar e integridade física dos profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes. O SUS é a única porta que permanece aberta diariamente, mas corre o risco de se transformar em uma trincheira. Se medidas urgentes e objetivas não forem adotadas reproduziremos os cenários de guerra onde coletes à prova de balas, fuzis e metralhadores conviverão ao lado de analgésicos e antibióticos. Mais do que levantar problemas, o momento é de compreender os fatos geradores e construir soluções coletivas e consensuadas. Neste sentido, a melhor resposta é o controle social e a participação popular com a imediata reativação e reestruturação de todas as Comissões Locais de Saúde, ampliação da atuação do Conselho Municipal de Saúde e a mobilização de todos os setores da sociedade para que nossas unidades de saúde sejam espaços de vida. No SUS a nossa guerra deve ser contra a doença e não contra o semelhante.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Artigo Jornal Tribuna em 12/01/2014

São Paulo e a Copa do Mundo 


Foi realizada na última quinta-feira, a apresentação do GOL – Guia de Orientação Local – Os Municípios Paulistas na Copa do Mundo da FIFA, feita pelo Comitê Paulista da Copa. Trata-se de uma publicação muito interessante que objetiva sanar dúvidas dos administradores municipais sobre a preparação do Estado de São Paulo para o grande evento, destacando as oportunidades para as cidades sedes, para as cidades que receberão Centros de Treinamentos e todas as cidades vizinhas. Vale lembrar que a seleção francesa foi a primeira a anunciar a cidade onde se estalaria e certamente Ribeirão Preto foi escolhida pelo seu potencial econômico, cultural, receptivo e pela logística que proporcionará para os interessados. A grande mensagem a todos os comerciantes, empreendedores, políticos e sociedade civil em geral é de que nesse processo, não somos espectadores e sim participantes e a Copa do Mundo pode deixar um grande legado para nossa região que já está se mobilizando para receber franceses e cidadãos de todo mundo. Além de mola propulsora do país, São Paulo possui uma série de atrativos que já fizeram que, até o momento, 11 das 32 seleções optassem por permanecer por aqui. França, Portugal, Nigéria, Costa do Marfim, Japão, Rússia, México, Costa Rica, Honduras, Bósnia e Irã estarão hospedados em solo bandeirante. Criticados por muitos, os investimentos no evento trarão resultados a curto, médio e longo prazo.  Para uma melhor visualização, devemos registrar a previsão de que turistas brasileiros e estrangeiros gastarão juntos, na Copa, R$ 25,2 bilhões o que representa 28 vezes o que os turistas gastaram na Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Serão cerca de 3 milhões de viajantes nacionais e 600 mil estrangeiros. A previsão é que os hóspedes internacionais gastem em média R$ 11,4 mil, parte disso será em nossa região, sendo preciso o desenvolvimento de ações que incentivem a opção pelos nossos atrativos. Até o encerramento da competição, os olhos do mundo estarão sobre o Brasil e, por consequência, sobre nossa região. Todo planeta acompanhará a Copa seja pessoalmente ou através das transmissões de rádio, televisão, internet e mídias em geral, surgi então a real possibilidade de divulgação das atrações turísticas e de busca de investimentos nos mais variados setores. Diferente dos aloprados que, por meio de críticas contumazes, buscam encontrar problema em tudo e sem a ingenuidade dos iludidos dos que acreditam que estamos no reino encantado, creio ser possível conciliar nossas lutas cotidianas por melhorias na saúde, educação, moradia e transporte com a realização de grandes eventos. Falando em grandes eventos, o Brasil está acostumado a organizar o carnaval.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Artigo Jornal Tribuna em 05/01/2014

O Cidadão e a Construção



O talento nacional conseguiu produzir canções que retrataram o cotidiano do brasileiro de modo tão fidedigno que acabaram eternizadas. Embora longe da lista das mais tocadas do momento, certamente estão presentes em nosso imaginário e na boa discoteca. Duas delas merecem especial destaque. Lúcio Barbosa nos brindou com “Cidadão” gravada por Zé Geraldo em 1979 e depois regravada por Zé Ramalho e Silvio Brito entre outros.  A música enfatiza o sofrimento de um trabalhador com as precárias condições de trabalho e certo arrependimento por ter deixado a seca da região norte para buscar melhor sorte na região mais desenvolvida do país. Em seu lamento ele destaca que ajudou a construir edifícios e colégios, onde não pode sequer parar para contemplar e onde seus filhos jamais poderão estudar. Sua esperança é participar das atividades da Igreja e ser consolado pelo próprio Senhor, que também construiu o universo, mas diariamente é excluído da vida das pessoas. Entre suas pérolas, em 1971, Chico Buarque gravou “Construção”, onde apresenta a história de um anônimo operário da construção civil que engrossa a triste estatística de mortes por acidente no trabalho.  Além do requinte e ousadia no processo de composição poética e melódica, Chico enfatiza a crítica a sociedade capitalista que reduz o homem à condição de máquina. Ao narrar o último dia de um trabalhador que ama sua mulher, beija seus filhos, se dirige ao canteiro de obras onde constrói paredes sólidas, come feijão com arroz e cai de um andaime precário, ele encerra com o corpo que se transforma em um pacote flácido que atrapalha o trânsito. Estamos iniciando mais um ano, época de reflexões, planejamento e desejando mudanças. Nosso país experimenta uma explosão produtiva em vários setores, destacadamente no mercado da construção civil. Ocorre que os dados apontam a média anual de mais de 700 mil acidentes no trabalho, principalmente nos canteiros de obras. Reverter esta situação deve ser uma meta perseguida por autoridades, sindicalistas, empresários e toda sociedade em geral. As mortes no trabalho não podem servir apenas como indicadores em mapas estatísticos, nossa capacidade de indignação não deve se restringir a reclamar do trânsito que fica interrompido quando se está prestando algum socorro às vítimas dos intermináveis desmoronamentos.