A Copa do Amor
Uma das maiores
rivalidades do futebol mundial envolve o Brasil e Argentina. Essa disputa não
nasceu nos gramados, e sim, na política, alimentada antes mesmo do nosso
descobrimento, com os colonizadores espanhóis e portugueses ao dividirem as
terras americanas com o Tratado de Tordesilhas. Posteriormente, tivemos a
Guerra Cisplatina, quando os argentinos uniram-se aos uruguaios para conter o
avanço do Brasil na região do Rio da Prata. Outro momento de tensão ocorreu na
década de 70, durante a construção da Usina de Itaipu. Isso tudo foi superado e
os dois países são grandes parceiros comerciais no Mercosul, além de grandes
opções de destinos turísticos. Mas no futebol os cronistas esportivos dos dois países
insistem nas comparações entre Pelé e Maradona, Messi e Neymar. Alimentando a
rivalidade, talvez apenas para ampliar a audiência. São piadas, trocas de
farpas e provocações recíprocas que somente foram reduzidas com a escolha do
Papa Francisco. Pela primeira vez os brasileiros ovacionaram e até beijaram as
mãos de um argentino que retribuiu com uma simpatia jamais vista. Com os franceses está ocorrendo fato semelhante. No tempo
da colônia os franceses tentaram invadir o Brasil por várias vezes. Depois da
Revolução Francesa, seus princípios de igualdade, liberdade e fraternidade
influenciaram na nossa independência. No futebol, as estatísticas apontam 13
jogos com o Brasil vencendo 5, empatando 4 e perdendo 4. Em Copas enfrentaram-se
4 vezes, com duas vitórias francesas, uma brasileira e um empate. Os mundiais
de 1998 e 2006 estão entalados em nossas gargantas, o Galo literalmente abateu
o Canarinho. Agora, tudo parece estar sendo superado com a presença da seleção
francesa em Ribeirão Preto. Progressivamente a cidade começa a se colorir com as
cores azul, vermelho e branco. Os dois treinamentos abertos realizados no
estádio Santa Cruz reuniram grande público. Maior, aliás, que o registrado em
muitos jogos do Campeonato Paulista 2014. Apaixonado por futebol, tietes de
todas as idades, caçadores de autógrafos e curiosos de toda ordem comparecem às
atividades promovidas pela FIFA, na frente do hotel e no centro de mídia
instalado no Palace Hotel. Pela primeira vez, observamos os inúmeros gritos,
palavras de incentivo e a tentativa de aproximação de Karim Benzema e seus
companheiros em um simples treinamento. Nesta Copa, até a nossa seleção que se preocupava com a
recepção fria dos paulistanos, foi acolhida e acarinhada. No dia dos namorados
a estreia contra a Croácia proporcionou a muitos casais a possibilidade de
dupla comemoração. Dizem até que: “torcer pela seleção brasileira, ao lado da
pessoa amada não tem preço”. O certo é que a demonstração de amor cívico
durante a execução do Hino Nacional ficará eternamente marcada. Após a surpreendente goleada da Holanda sobre a Espanha,
tudo poderá acontecer, mas uma coisa que não deve ser esquecida é o espírito do
jogo limpo e da integração entre os povos que somente pode ser materializado
por intermédio do esporte. Que este maravilhoso evento transcorra na paz e harmonia.
Que os estrangeiros sejam bem recebidos. Que os brasileiros possam aproveitar o
legado deixado e que as pessoas aprendam a ser mais tolerantes e que esta Copa
seja lembrada como a Copa da Paz e do Amor.