A Grande Sinfonia
Na década de
90 tive a oportunidade de trabalhar na Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.
Fundada em 22 de maio de 1938 pelo alemão Marx
Bartsch, a OSRP desenvolve importantes projetos de difusão da música erudita,
com grande destaque no cenário artístico nacional. Também conta com projetos
sociais como o “Juventude tem Concerto e o “Tocando
a Vida”.
Como inspetor
de orquestra, uma de minhas atividades era acompanhar os ensaios e todas as
apresentações o que me possibilitou conhecer detalhes interessantes que
envolvem o desenvolvimento de atividades dos músicos.
Geralmente o
mais conhecido, o maestro é figura fundamental, responsável por coordenar e liderar todas as atividades deve
proporcionar a plena integração entre os instrumentistas e manter a coesão
garantindo a plena harmonia entre a composição e a atuação do grupo. Mais que
um olhar atento, precisa de um ouvido sensível para identificar eventuais
falhas e aperfeiçoar a técnica de cada um dos envolvidos.
O músico é outro elemento essencial e ao observar
apresentações sinfônicas, podemos observar que determinados instrumentistas
participam com breves intervenções. Às vezes parecem distantes, quase que
distraídos, mas no momento exato, efetuam com maestria seu mister. Uma simples
nota é capaz de destacar toda a obra musical, resultado de anos de estudos e
ensaios. Em outros momentos são exigidos de forma tão intensa que parecem
chegar a exaustão.
Na orquestra existe uma divisão por instrumentos, os
chamados naipes, cada um a sua maneira proporciona sons harmônicos que se
completam. Além da organização em grupo, cada qual possui seu espaço e
disposição de modo a proporcionar perfeita combinação e equilíbrio.
Mais próximo
ao maestro está o naipe de cordas com os violinos, violoncelos, violas,
contrabaixos e harpa. Já no naipe de madeiras encontramos as flautas e flautim,
oboés e corne inglês, clarinetes e clarinete baixo, fagotes e contrafagote. O
naipe de metais é formado por trompas, trombones, trompetes e tuba. Mais ao
fundo encontramos o naipe de percussão onde os principais instrumentos são:
tímpanos (timbales), caixa, pratos, xilofone, castanholas, triângulo entre
outros. Há também outros importantes personagens como os montadores,
arquivistas e toda equipe administrativa. Quando visualizamos uma orquestra o
que nos marque é o todo e o todo somente é perfeito graças ao empenho pessoal
de cada um.
Em singela
analogia, podemos comparar nossa sociedade com uma orquestra. Cada indivíduo
deve ser valorizado e colaborar com sua potencialidade e vocação para o êxito
do coletivo. Existe o momento para cada um apresentar suas habilidades. Em
alguns instantes de modo individual, em outros agrupados, mas sempre
objetivando o melhor para o coletivo.
Há que se
respeitar o brilho de cada estrela é isso que garante a beleza da constelação.
Se um músico se preocupa demais com a forma que o outro está tocando,
certamente perderá a concentração e correrá o risco de desafinar. Os naipes são
complementares, podem se apresentar de modo belo quando isolados, mas nada
supera a emoção de ouvir todos juntos tocando de modo harmônico.
Nosso país,
nosso estado, nossa cidade possuem pessoas maravilhosas, talentos esplendorosos
nos mais variados setores, características que causam inveja a todo planeta,
mas ainda não aprendemos a atuar de modo coletivo. O egoísmo de alguns, os
interesses políticos de outros, os jogos econômicos e de poder perturbam o bom
andamento da composição elaborada pelo nosso Criador.
É urgente e
necessário possibilitar que todos tenham acesso aos direitos elementares e que
possam exercitar sua cidadania em plenitude. Também, é preciso exigir
responsabilidades, não dá para atravessar sempre, não dá para agredir nossos
ouvidos ou nossa dignidade.
A música é
universal e democrática, mesmos os mais simples e que jamais tiveram qualquer
contato com determinado ritmo logo se envolvem e se maravilham com seus
encantos.
A vida é bela
e viver intensamente é algo maravilhoso. Viver em comunidade é ainda melhor.
Compreender, respeitar e incluir são gestos, exercícios que podem nos auxiliar
na execução da Grande Sinfonia. O convite de hoje é simples: vamos tocar
juntos?