O caminho pode ser suave
Minha geração estudou pela famosa Cartilha Caminho Suave, idealizada por
Branca Alves de Lima que utilizava o método de alfabetização por imagem. Além
da cartilha existiam carimbos, baralhos e outras ferramentas de apoio que nos
levavam ao maravilhoso mundo do conhecimento. Os mais jovens devem trazer
agradáveis lembranças da Cartilha da Mimi. Naquele tempo, os abnegados
professores utilizavam o quadro negro, o giz, as cópias mimeografadas em papel
sulfite e principalmente a voz. Falando em voz, até hoje ecoam em meus ouvidos
alguns ensinamentos sobre literatura, ciências, estudos sociais e geografia
entre outros. As aulas de educação física, os campeonatos internos, os jograis,
a fila da sopa e as comemorações cívicas eram momentos que também merecem
destaque. Para nós a escola era o templo do saber e os professores eram figuras
que mereciam todo respeito e consideração. Havia uma crítica quanto ao excesso
de regras e para muitos a escola era muito dura. Passou o tempo e hoje se
reclama que a escola está muito “frouxa”. O ensino não foi priorizado pelos
governos e pela própria população e a figura do professor foi desvalorizada.
Uma das consequências é que recente relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) aponta que o Brasil aparece em 8° lugar entre os
países com maior número de analfabetos adultos. De acordo com a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE em 2012, a taxa de
analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, o que
corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país. Somente nos últimos anos a educação
voltou à ordem do dia e investimentos mais vigorosos começam a ser feitos. A
destinação de royalties do
petróleo e a elevação dos gastos com ensino para 10% do PIB, como prevê o
projeto do Plano Nacional de Educação (PNE) apontam para um novo tempo. O
cuidado maior com a educação infantil e anos iniciais e a ampliação do acesso à
universidade através das políticas públicas como Enem, Sisu, Fies, ProUni,
Cotas ampliam nossas esperanças em um futuro melhor. Ocorre que estamos diante
de um grande desafio na rede de ensino, especialmente na pública que é afastar
as drogas e a violência da porta e do interior das escolas. Formar, atualizar e
remunerar dignamente os professores é outro desafio. Somente educadores
preparados podem motivar os alunos integrantes da “Geração Z” com sua obstinação pela internet,
seu desejo desenfreado de compartilhar arquivos e fatos do cotidiano através de seus telefones
móveis, MP3 players e toda parafernalha eletrônica. As
diferentes esferas da administração pública precisam garantir aos nossos
mestres a possibilidade de utilização da tecnologia na educação não somente com
ferramentas digitais, mas também com recursos audiovisuais diversos de fomento
tanto do ensino como de pesquisa histórica. Vale registrar que as famosas e
volumosas enciclopédias hoje cabem na palma da mão. A geração da informação
precisa de um cuidado apurado para que tenha formação. Enquanto, alguns
municípios utilizam lousas digitais e os alunos utilizam tablets, em outras
faltam cadeiras. Devemos garantir educação gratuita e obrigatória dos quatro
aos dezessete anos de idade. Ampliar o acesso e sequência nos estudos dos
jovens a partir dos 18 anos, além de ampliar as graduações e pós-graduações.
Com educação de qualidade o caminho para a construção de uma nação justa e
soberana certamente será mais suave.