Somos todos idiotas
Na tentativa da construção de uma sociedade
mais digna e justa, onde igualdade, liberdade e fraternidade sejam
materializadas, várias pessoas mobilizam-se em associações, clubes de serviços
e entidades dos mais variados setores da economia, política, religião ou vida
social. Curiosamente, em seus templos, em suas reuniões e rituais, são pessoas
maravilhosas que trocam abraços e elogios, aplaudem as falas dos outros, são
verdadeiros anjos na terra. Lá fazem discursos empolgados, que deixam qualquer
vivente emocionado. Poucos instantes depois, no trânsito, cometem uma série de
barbaridades, buzinam, xingam e, não muito raro, protagonizam verdadeiras
batalhas. Observe as filas e a disputa por vagas nos grandes centros
comerciais, as guerras nos estádios de futebol e as contendas entre vizinhos. Dificilmente
você poderia imaginar que um cidadão que depreda o patrimônio público,
estaciona em vaga de pessoa com deficiência, fura filas e grita palavrões no
trânsito é um reverenciado líder em seu grupo. Um dos diferenciais dos grandes
homens e das grandes mulheres é a capacidade de pensar, falar e agir de modo
coerente e eficaz, proporcionando a conquista de seguidores e adeptos das mais
variadas culturas, raças e situações econômicas. Mandela foi um dos que deixou
um legado onde o discurso tornou-se prática. Outras referências contemporâneas
deixaram sua marca em favor de uma sociedade menos injusta e mais pacífica. O
Papa João Paulo II ensinava que a paz exige quatro condições essenciais:
verdade, justiça, amor e liberdade, pelo que observamos cotidianamente a
sociedade contemporânea demonstra imensa dificuldade em assimilar esses
conceitos. Grandes verdades caíram por terra com o passar do tempo. A justiça é
uma das palavras mais ditas e menos experimentadas nos últimos tempos. A
liberdade é sempre confundida com libertinagem. Quanto à falta de amor, Madre
Teresa de Calcutá já alertava: “...Se você vive julgando as pessoas, não tem
tempo para amá-las...”. Nesta época em que todos estão desesperados em
programar as viagens e festas de natal e ano novo, comprar presentes e preparar
suntuosas ceias, parece que os ensinamentos do Cristo que nasceu naquela
humilde manjedoura da pequena Belém ficam em segundo plano. Embora, entoado
diariamente em milhões de bocas, o Evangelho do Príncipe da Paz encontra corações
resistentes e orgulhosos que não conseguem enxergá-lo na figura do próximo.
Quanto a esta dificuldade de amar, compreender e conviver com o próximo, o
pastor e ativista dos direitos humanos, Martin Luther King nos deixou um
verdadeiro chacoalhão: “Ou vivemos todos juntos como irmãos, ou morremos todos
juntos como idiotas”. Vamos tentar mudar juntos? Feliz Natal para todos!