domingo, 1 de dezembro de 2013
Artigo Jornal Tribuna 01.12.2013
As mortes do motorista do guindaste Fábio Luis Pereira, de
42 anos de idade, e do montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 anos de
idade, que trabalhavam para empresas terceirizadas na obra de construção da
Arena Corinthians causou grande repercussão na mídia nacional e internacional.
Na busca de manchetes e audiência, cada órgão buscou destacar um item do mesmo
quadro. Alguns enfatizaram o valor da obra, outros eventuais erros nos
procedimentos, outros questionam a capacidade técnica e outros a competência do
país em construir obras e realizar acentos do calibre da Copa do Mundo da FIFA. Não
observei nos vários periódicos e noticiários televisivos que tive acesso, a
abordagem relativa à quantidade de acidentes do trabalho, especialmente na
construção civil. Em breve análise dos números disponibilizados pelo Anuário
Estatístico da Previdência Social constatamos que em 2011 foram registrados no
Brasil cerca de 711.164 acidentes do trabalho, sendo que sendo que destes, 59.808
foram na construção civil. Em 2009, em todos os setores da economia foram 2.560
mortos em decorrência do exercício do trabalho, sendo que 16%, ou seja, 409
atingiram trabalhadores da Construção Vale dizer que mais de um trabalhador da
construção civil morre por dia no Brasil. A este número, já alarmante, devemos
somar os milhares de sequelados que de modo provisório ou permanente perdem a
capacidade funcional com sério comprometimento da renda e da qualidade de vida,
ficando ainda sujeitos ao longo tratamento fisioterapêutico, lotando os
hospitais de unidades de tratamento e sacrificando ainda mais os combalidos
recursos da saúde e da previdência pública. A estimativa é que o Brasil gasta
mais de R$ 14 bilhões por ano com acidentes de trabalho. O problema não é só
nosso, a prevenção de acidentes do trabalho é uma preocupação mundial e, de
acordo com a Organização Internacional do Trabalho, anualmente, cerca de 270
milhões de trabalhadores são vítimas de acidente de trabalho em todo o mundo.
Saindo da frieza dos números vamos encontrar homens e mulheres , brasileiros
simples que constroem a grandeza do país, muitas vezes submetidos a jornadas de
trabalho extenuantes, além de condições precárias de trabalho e de alojamentos
onde pessoas são mantidas em condições análogas a de escravo. Enquanto, alguns
rapidamente formularam piadas associando o acidente à sina do clube proprietário
do Estádio e outras de modo frenético torcem para que novos sinistros e
contratempos ocorram nas arenas em construção possibilitando assim a obtenção de
bônus políticos ou econômicos, as pessoas sérias e comprometidas devem envidar
esforços para alcançar melhores condições de trabalho. A qualificação permanente
de engenheiros, técnicos e operários em geral, a disponibilização de
equipamentos de proteção individual de qualidade, a valorização dos mapas de
risco, a presença permanente de engenheiros e técnicos em segurança do
trabalho, ações fiscalizatórias constantes do Ministério do Trabalho, a atuação
do Ministério Público do Trabalho, a celeridade das ações que tramitam pelo
Poder Judiciário e a combativa atuação das representações sindicais forma um
conjunto de elementos capazes de alterar a atual realidade. Maior que a
preocupação com o cumprimento do cronograma da obra deve ser o compromisso com
a preservação da vida e da integridade física dos trabalhadores. No jogo da
vida e na batalha entre capital e trabalho, o acidente do trabalho é um gol
contra, e como consequência, todos perdem.
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