Está faltando amor!
Nos
últimos tempos o brasileiro adotou o hábito de carregar a bandeira
nacional. Seja em eventos esportivos ou manifestações políticas,
nosso pavilhão destaca-se pelas cores, beleza geométrica, estrelas
e pela frase: "Ordem e Progresso", lema nacional da
República Federativa do Brasil. Segundo os historiadores, ela é uma
adaptação do lema político do positivismo criado pelo francês
Auguste Comte: “L'amour pour principe et l'ordre pour base; le
progrès pour but”, traduzindo: "O Amor por princípio a Ordem
por base; o Progresso por fim". Falando em bandeira, tramita no
Congresso Nacional um projeto de lei para resgatar a frase original,
porém existe a resistência de alguns parlamentares defendendo que
na bandeira deveriam constar outras palavras como educação,
honestidade, decência, trabalho ou organização. Mas, voltando ao
amor, esta talvez seja uma das palavras mais ditas em todo mundo,
especialmente por aqui. Tema de novelas, canções e poesias, o amor
é muito falado e pouco praticado. Não falo apenas do amor
positivista, tão pouco do amor atração, apetite, paixão, desejo
ou libido. Muito menos do amor difundido pela ditadura instalada a
partir do Golpe Militar de 1964 através do slogan: "Brasil,
ame-o ou deixe-o" ou do estadunidense: “Faça amor, não faça
guerra”. Falo do amor afeição, compaixão, misericórdia. Do amor
caridade ensinado por Paulo aos Coríntios e a todos nós, replicado
por Camões e adaptado por Renato Russo. Aquele amor sofredor e
benigno que afasta a inveja, a vanglória e a soberba. Amor que
renuncia ao próprio interesse, não se irrita, mas não compactua
com a injustiça. Amor que crê, espera e suporta. Amor capaz de
superar línguas, ciências, religiões, poder econômico ou
político. Amor Cidadão! Amor comprometido com as causas ambientais
e sociais. Do amor que pratica cordialidade no trânsito,
generosidade nas filas. Amor que enfrenta as práticas de racismo,
preconceito e discriminação. Que se preocupa com a acessibilidade.
Que respeita e valoriza o patrimônio histórico, a diversidade
racial, cultural e religiosa que foram fundamentais para a
constituição do povo brasileiro. Imagine uma sociedade onde cada
profissional atua dentro de sua área de conhecimento e da economia
utilizando esse princípio de amor. Como seriam os atendimentos no
setor de saúde se o princípio de amor fosse aplicado? E na
educação? Imagine um judiciário e uma polícia mais amável. Se o
princípio do amor regesse o legislativo ao criar leis e o executivo
ao implementar políticas públicas, certamente não encontraríamos
tantas desigualdades sociais, tanta exploração, tanta miséria.
Quem ama não constrói edifícios com areia da praia, não coloca
solvente no combustível, não adultera o leite que será consumido
por milhares de pessoas. Quem ama não destrói recursos naturais,
muito menos patrimônios históricos. Em um tempo onde se discute
redução da maioridade penal, aplicação da pena de morte e não se
ataca as reais causas da violência, encontramos uma sociedade
carente e perdida. O consumismo amplia-se, os templos estão lotados,
os livros de autoajuda são best sellers e a humanidade procura
desesperadamente formas de encontrar a felicidade. Talvez tardiamente
perceberemos o óbvio: está faltando amor!