O passo seguinte
Nesta semana participei de uma atividade na Faculdade de Administração,
Economia e Contabilidade da USP (FEA). Atendendo a pedido do Ministério
Público, os mestres e doutores constituíram um grupo para análise das planilhas
do transporte coletivo local. Como determinam as boas técnicas acadêmicas,
traçaram objetivos claros para compreensão dos termos da concessão, verificação
da correção dos valores praticados e dos indicadores de qualidade no
cumprimento dos termos pactuados. A metodologia proposta vem ao encontro do que
defendo. Na sociedade ideal que acredito, o transporte coletivo seria público,
gratuito e de qualidade. No Brasil que, ainda sente os efeitos da cultura
privatista que se apropriou do patrimônio público em favor dos interesses do
capital privado, o quadro é diferente e temos que buscar as metas possíveis
para o momento, para o médio e longo prazo. A questão do transporte público
jamais mereceu profunda atenção dos governantes prova disso é que, segundo a
Pesquisa de Informações Básicas do IBGE em 2102 apenas 6,4% dos municípios
contavam com Conselhos de Trânsito e Transporte. Do seu lado, os usuários
pareciam acostumados ao sofrimento cotidiano. Recentemente, os municípios
realizaram as Conferências da Cidade onde o tema foi amplamente debatido e a
participação popular foi acanhada.
Além da criação de Conselhos, é importante que os colegiados tenham a
capacidade de analisar, compreender e compartilhar com toda sociedade as
polêmicas planilhas e seus componentes (recursos humanos, veículos,
quilometragem, quantidade de passageiros transportados, o lucro ou a
remuneração pelo investimento, entre outros), deixando cristalino para todo
cidadão tudo o que envolve a estipulação dos valores do transporte coletivo.
Outra prioridade para todas as cidades com mais de 20 mil habitantes é
a implementação dos Planos Municipais de Mobilidade Urbana que contemplem a
acessibilidade, a circulação e sistema viário, os sistemas de transporte
coletivo e comercial e o sistema de transporte de cargas.
As inúmeras marchas, protestos e caminhadas foram o marco de um novo
tempo. O passo seguinte é a dialética entre conflito e consenso, onde os
diversos interesses serão desnudados, identificados e comparados dentro de um
debate democrático capaz de produzir as políticas públicas sonhadas e as
pactuadas.
O exercício de reunir na mesma mesa governo, empresários, sociedade
civil organizada e usuários do sistema será salutar para encontrar gargalos,
reduzir gorduras, desmistificar lendas e apontar caminhos e alternativas para
um transporte de qualidade e de valor justo.
Paz, saúde, prosperidade!