Metralhadoras, Analgésicos ou Bom Senso?
Saúde e Segurança são temas sempre elencados entre as maiores
preocupações dos brasileiros, também são os preferidos nas campanhas eleitorais
e nas manchetes sensacionalistas em rádio, jornal, televisão e agora nas mídias
sociais. O bombardeiro diário que recebemos sobre as mazelas dos dois setores
acabam criando um misto de impotência e revolta que incentiva o clima de guerra
encontrado nos serviços de Saúde de todo país. Ocorre que poucos param para
refletir que as dificuldades econômicas, a desestruturação das famílias, o
aumento do consumo de álcool e drogas, as barbaridades no trânsito, o sexo
descompromissado, a violência urbana, a falta de higiene pessoal e coletiva,
enfim, tudo deságua na porta da rede de saúde. Sim! Se o cidadão não cuida do
seu quintal e o mosquito da dengue se prolifera, o resultado será unidades de
saúde lotadas. Se o marido agride a mulher, se o motorista bebe antes de
dirigir, se um grupo de amigos resolve promover uma festinha regada a cocaína
ou crack, onde estas histórias vão terminar? Certamente no atendimento à saúde.
Assim, por mais profissionais que sejam contratados e por mais unidades que
sejam construídas, parece que a necessidade é sempre maior que a oferta. Diante
desta crescente demanda uma das respostas dos técnicos da saúde foi a Política
Nacional de Humanização que entre suas diretrizes prevê a priorização do
acolhimento, uma postura ética na escuta dos problemas dos usuários do sistema.
Também, a classificação de risco como forma de organização das filas de espera
priorizando os que mais necessitam de atendimento. Outras estratégias precisam
ser aperfeiçoadas, entre as quais a educação e orientação da população de como
melhor utilizar os serviços. Outro problema recorrente que precisa ser
enfrentado é a elevada quantidade de agressões, ofensas, roubos e furtos que
vitimizam os profissionais da saúde. Na prática, os cuidadores estão precisando
de cuidados. Como exigir que um trabalhador humilhado, ameaçado ou agredido
utilize em plenitude seus conhecimentos e técnicas para minorar o sofrimento do
adoentado. Diariamente, perdemos profissionais que se recusam em trabalhar em
determinadas regiões, posicionamento compreensível já que ninguém quer perder a
vida ou o patrimônio material adquirido a duras penas. A quantidade de trabalhadores da saúde
afastados por stress, depressão, síndrome do pânico ou em razão de agressões é
crescente. Além da repactuação do financiamento que sacrifica municípios polos
como Ribeirão Preto, devemos garantir mudanças estruturais, físicas e
arquitetônicas que possibilitem maior conforto e segurança dentro das unidades
de saúde como forma de garantir bem-estar e integridade física dos
profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes. O SUS é a única porta que
permanece aberta diariamente, mas corre o risco de se transformar em uma
trincheira. Se medidas urgentes e objetivas não forem adotadas reproduziremos
os cenários de guerra onde coletes à prova de balas, fuzis e metralhadores
conviverão ao lado de analgésicos e antibióticos. Mais do que levantar
problemas, o momento é de compreender os fatos geradores e construir soluções
coletivas e consensuadas. Neste sentido, a melhor resposta é o controle social
e a participação popular com a imediata reativação e reestruturação de todas as
Comissões Locais de Saúde, ampliação da atuação do Conselho Municipal de Saúde
e a mobilização de todos os setores da sociedade para que nossas unidades de
saúde sejam espaços de vida. No SUS a nossa guerra deve ser contra a doença e
não contra o semelhante.