Dia de Todas as Mães
O Dia das Mães é celebrado em vários países e em
datas distintas. No Brasil, assim como nos Estados Unidos, Itália, Japão e
Turquia, a data escolhida foi o segundo domingo de maio. Desde os bancos
escolares aprendemos a fazer homenagens as mães. Seja por meio de desenhos,
flores, versos, lembranças materiais ou um simples beijo, teoricamente todas as
mães são lembradas. Aliás, o bombardeio midiático do comércio colabora até
mesmo com os filhos distraídos para que não se esqueçam de adquirir o melhor
presente.
Cabem aqui algumas reflexões. Quantas mães
efetivamente estão celebrando o seu dia? Quantas receberão presentes? Quantas
reúnem motivos para festa?
Em 20 anos, entre 250 mil e 500 mil mulheres foram
estupradas em Ruanda e dessas violações, teriam nascido 200 mil crianças.
Quantas mães foram vítimas de estupro e geraram filhos em todo o mundo? A coragem de gerar uma vida, fruto de uma
violência tão grave merece ou não homenagem?
Existe estatística real sobre o número de mães que tiveram
a dolorosa experiência de enterrar seus filhos em razão da violência nos morros
cariocas, na periferia de Salvador, São Paulo ou mesmo Ribeirão Preto? Segundo o CEBELA (Centro Brasileiro de
Estudos Latino-Americanos), entre 1980 e 2010 foram assassinados 386.983 jovens
brasileiros entre 15 e 29 anos. É possível visualizar as milhares de mães
debruçadas sobre os caixões de seus filhos? Neste domingo as flores que
carregarão nas mãos provavelmente serão depositadas em seus túmulos.
Segundo a UNICEF mais de 1,2 milhões de crianças são
anualmente vítimas de tráfico humano, elas se juntam às que estão desaparecidas
em razão de raptos, fugas, pedofilia, prostituição e crimes em geral. Neste dia
das mães, como dimensionar a dor da incerteza? Seria ela maior que a esperança
de um dia reencontrar o filho amado?
E as mães que abortaram? Seja por pressão familiar,
seja por medo da condenação social ou por simples opção, elas não levaram a
termo uma gravidez que passou a ser indesejada. Como fica o coração dessas
mulheres?
As mulheres que não conseguiram segurar a gravidez e
as que abortaram por erro médico ou falta de assistência adequada. Que não
receberam a estrutura obstétrica necessária ou que foram submetidas a
laqueaduras ou processos de esterilização diversos sem o devido consentimento,
estarão celebrando ou estarão sentadas solitárias em um quarto, contemplando
parte do enxoval que jamais foi usado e que carinhosamente está guardado para
um filho que jamais usará?
Não nos esqueçamos das mães que estão nos asilos,
nas clínicas de recuperação e nos hospitais. Alguém
vai presentear as mães que pelos mais variados motivos estão encarceradas? E as
mães usuárias de drogas, que perambulam pelas ruas e becos? Quem as visitará?
Receberam ao menos nossa oração e solidariedade?
Lembremo-nos das mães que estão trabalhando nas mais
variadas atividades e não terão como comemorar com os filhos. Também das mães
que vivem em condições precárias entre as quais as mães sem terra, mães sem
teto, mães sem nada. Ainda, uma categoria que se aproxima da santidade é a das
mães de crianças com deficiências múltiplas e graves e que
devotam um amor extremo aos filhos.
Existem tantas categorias de mães excluídas que
talvez este próprio texto tenha negligenciado alguma. Aliás, seu objetivo não
foi deprimir ninguém, ao contrário, além de recordar as mães muitas vezes
esquecidas, ele tem a humilde pretensão de incentivá-lo a terminar a leitura
deste agradável jornal e pegar o telefone e ligar para sua mãe distante. Se
possível, pegar uma condução e correr para onde está sua mãe. Ir ao templo ou
ao cemitério e homenagear a mãe falecida e acima de tudo, agradecer o dom da
sua vida, que só foi possível porque você teve uma mãe.