Eles não sabem o que fazem
A cada ano parece que a Semana Santa
perde a força de período para reflexão e conversão e se transforma em mais um
feriadão. Apesar dos esforços das igrejas cristãs, a sensação é de que a
quantidade de pessoas na praia ou em atividades diversas aumenta em proporção
maior do que a de pessoas nos templos.
Razão principal das celebrações, a
morte e a ressurreição de Jesus são repletas de mistérios, mas também de
ensinamentos e exemplos capazes de referenciar um modelo ideal de vida em
sociedade. Modelo que está exposto de modo saturante com um bombardeio
midiático em programas televisivos, radiofônicos e nas redes sociais. São
milhares de líderes religiosos reproduzindo seus ensinamentos, mas parece que o
ser humano quanto mais busca, mais se afasta da plenitude da vivência do que o
Mestre ensinou.
A geração do “tudo posso” se esquece
de que “nem tudo convém”. Em contrapartida diariamente carrega em suas mãos
pedras para atirar em todos ao redor, fato que se trata de autodefesa ou talvez
uma forma de omitir as próprias culpas. O Nazareno optou pela simplicidade e
se permitiu ser traído, injustiçado, caluniado, violentado, morrendo da forma
mais humilhante, mostrou que é possível passar por tudo isso e vencer. Vencer a
morte, mas também vencer ainda em vida.
Ocorre que em nosso cotidiano,
muitas vezes preferimos Barrabás e ignoramos o Emanuel. Se os contemporâneos de
Cristo tinham dificuldades de percepção de tudo o que estava acontecendo,
parece que nós compartilhamos da mesma cegueira. Guardadas as proporções,
nossas expectativas e atitudes são semelhantes.
Corrompidos pelo egoísmo,
consumismo, violência, competição e pela desconstrução de princípios, nos
afastamos do tripé: fé, esperança e amor, principalmente do maior deles: o
amor! O correto uso dos dons.
Em sua infinita sabedoria e
misericórdia, apesar de todas as dores e sofrimentos impostos desde a noite no
Monte das Oliveiras até a crucificação, o Salvador exercitou até o fim o que
pregou. Segundo os livros sagrados, enquanto esteve pregado na cruz, o Homem
das Dores proferiu sete frases. A primeira: “Pai, perdoai-os porque eles
não sabem o que fazem" (Lucas 23:34). Remete-nos ao ensinamento anterior
de amar e perdoar os inimigos (Mateus 5:44). A segunda ao se dirigir a um
vizinho de cruz nos aponta a possibilidade de conversão até o último instante
de nossa existência: "Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no
Paraíso" (Lucas 23:43). Outro exemplo de generosidade extrema: “Mulher,
eis aí teu filho; olha aí a tua mãe" (João 19:26-27). Na sequência foram
dois momentos de natureza humana: "Eli, Eli, lama sabachthani? (Deus, meu
Deus, por que me abandonaste?)" (Mateus 27:46 e Marcos 15:34). E depois:
"Tenho sede" (João 19:28). A sensação de missão cumprida: "Está
consumado" (João 19:30) e "Pai, em tuas mãos entrego meu
espírito" (Lucas 23:46).
Mais do que resgatar tradições, a
proposta que nos apresenta nesta semana é de procurar assimilar este
incomparável legado deixado pelo Leão da Tribo de Judá. Se ainda navegamos em
um mar de insegurança, medo e descrença generalizada, não podemos ignorar que
uma das maiores promessas está ao nosso alcance. Apesar de todos os nossos erros,
incompreensões, ingratidões e opções equivocadas Ele garante: “Eu estarei
sempre com vocês, até o fim dos tempos" (Mateus 28:20).