A Cura da Saúde
Muitas
vezes ouvimos falar mal da saúde que temos, mas não definimos claramente a
saúde que queremos. Talvez o exercício não seja tão difícil, bastando atentar
ao que prescreve a Constituição Federal que apresenta a saúde como direito de todos
e dever do Estado. Há 25 anos ficou previsto a aplicação de políticas sociais e
econômicas capazes de reduzir os riscos de doenças e outros agravos e o acesso
universal e igualitário, com ações de proteção, promoção e recuperação.
Ao
Estado compete regulamentar, fiscalizar, controlar e executar ações de saúde
diretamente ou através de terceiros. A integração de uma rede regionalizada e
organizada proporciona um Sistema Único de Saúde - SUS, fundamentado no
atendimento integral e descentralizado e com participação efetiva da
comunidade.
Mas
para se atingir esse ideal de saúde precisamos garantir que todo brasileiro
tenha a dignidade de um trabalho decente com condições dignas e salário justo.
Com isso poderá residir em uma boa moradia, utilizar transporte adequado e
desfrutar de uma alimentação balanceada ou como preconiza a Organização Mundial
de Saúde, alcançar o
estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência
de doenças.
Se
a teoria é importante, saber quem vai pagar a conta é muito mais. O
financiamento das ações e serviços de saúde realizados pelos municípios é de
responsabilidade das três esferas de governo. Através de recursos diversos,
entre os quais, as transferências regulares, celebração de convênios, contratos
e repasses é possível a realização de consultas, exames diversos, procedimentos
de 25% de seu orçamento para a saúde, enquanto o Governo Federal colabora com
uma parte e a participação do governo estadual é ínfima. Se os impostos são
gerados no município e é no município que o povo mora, alguma coisa está
errada.
A gestão pública, notadamente a gestão em saúde ganha cada vez
maior relevância. Na sociedade atual já não existe espaço para improviso,
incompetência e desonestidade. A corrupção, os desvios de recursos, os erros em
processos licitatórios e outras anomalias comprometem o sucesso das ações
integradas de saúde em grande parte do país.
A boa relação entre profissionais de saúde e usuários é fator
primordial para o êxito da saúde pública. Profissionais desmotivados,
desvalorizados e sem condições físicas, estruturais, materiais, retaguarda
tecnológica, exames complementares, entre outros, não conseguem devotar o seu
melhor em favor dos pacientes. Vale lembrar, que quem busca um serviço de
saúde, geralmente está fragilizado, aflito, debilitado ou com dores. Nesta
situação e como cidadão, merece um olhar mais atento, uma saudação carinhosa,
um sorriso acolhedor e um tratamento ágil, qualificado e com resolutividade. Um
atendimento humano gera confiança, vínculo e favorece o procedimento de
identificação e resolução dos problemas.
Muito se fala que o sistema de saúde encontra-se na UTI. Aceitando
a analogia, devemos então defender que a saúde merece atenção prioritária,
integral, com disponibilização de todos os recursos humanos, físicos,
financeiros e tecnológicos capazes de salvá-la.
A saúde precisa de uma cura e não será por intermédio de discursos
vazios, tão pouco de projetos mirabolantes. As deficiências e falhas não podem
servir de palanque político daqueles que procuram promoção pessoal, destaque em
noticiários ou venda de jornais à custa da tragédia alheia. Também, não podemos
fechar os olhos ou adotar a postura do avestruz e negar que existem
imperfeições e que precisam ser saneadas.
O enfrentamento consciente dos problemas por meio de efetiva
atuação dos órgãos fiscalizadores, do controle social pelos conselhos
populares, do envolvimento compromissado dos agentes políticos e dos órgãos de
comunicação são fundamentais para esse processo.