Construtores da nossa história
Esta semana dialogando com Heliana Silva
Palocci vislumbrei um brilho cativante em seus olhos quando se referiu aos
operários que participaram da montagem da Feira do Livro. O carinho e dedicação
dos anônimos trabalhadores a remeteu ao texto de Bertold Brecht: “Perguntas de
um Operário Letrado”. Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros
vem o nome dos reis, mas foram os reis que transportaram as pedras?
Curiosamente, já fiz reflexões semelhantes sobre a importância dos anônimos que
constroem viadutos, pontes, usinas hidrelétricas e uma série de obras
magníficas e que geralmente ficam renegados ao ostracismo e a anonimato. As
placas de inauguração são sempre recheadas com os nomes de autoridades, algumas
das quais sequer passaram por ali ou envidaram o mínimo de esforço para sua
realização.
Dizem que a história registra a versão dos vencedores, dos poderosos, dos
ricos, das pessoas de sucesso, mas recorrendo novamente a Brechet, indago: “No
dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os seus pedreiros?”.
“O jovem Alexandre conquistou as Índias sozinho?” É obvio que as respostas a
todos os questionamentos serão as mesmas: Não!
Nestes 157 anos, Ribeirão Preto recebeu milhares de contribuições fundamentais
para seu progresso e prosperidade. Entre os bandeirantes que cortaram suas
terras, tingidas de roxo pelo sangue dos escravos africanos e pelos
remanescentes dos indígenas. Temos, ainda, os demais europeus, asiáticos e por
brasileiros dos mais variados rincões. Foram operários, tecelões,
agricultores, funcionários públicos, empregadas domésticas, enfim trabalhadores
de todas as profissões.
Aqui homens e mulheres valorosos
se dedicaram para que a cidade fosse hoje reconhecida como detentora dos
melhores indicadores de qualidade de vida, mas falharam ao construir uma
cidade excludente. Se no passado os grandes senhores construíam belos
palacetes, hoje seus descendentes estão migrando para imponentes condomínios.
Do outro lado da cidade, crianças e adolescentes crescem em conjuntos
habitacionais populares desprovidos da necessária infraestrutura, especialmente
de educação, esporte e cultura.
Não podemos nos furtar de
entender que possuímos problemas que precisam ser enfrentados. Atitudes
diárias de urbanidade, por exemplo, são fáceis e geram uma atmosfera positiva
entre a comunidade, mas precisamos de atitudes mais robustas em favor da
efetiva evolução. Neste sentido, arquitetos e urbanistas, historiadores e profissionais
dos mais variados setores da economia esforçam-se para entender nossa realidade
e encontrar as soluções. Se o profícuo mundo acadêmico e tecnológico for
estimulado a colaborar com a sociedade civil organizada, certamente
encontraremos este processo será acelerado.
Apesar dos esforços articulados
com os governos estadual e federal, o número de moradias continua insuficiente.
A saúde aplica com robustez recursos para a atenção básica e especialidades,
mas as filas e reclamações continuam. Nossa educação possui variantes
preocupantes e severas distinções entre a rede estadual e a rede municipal. O
transporte coletivo urbano está em fase de readequação e muitos outros itens
acabam realçando contrastes.
Mas neste mês de festa, é
necessário elogiar a aniversariante, derramar confetes e outras formas efusivas
de manifestar carinho e afeto. Nesta visão saúdo nossa querida cidade desejando
que os próximos anos sejam de prosperidade econômica, justiça social e
desenvolvimento sustentável. E que seus construtores sejam reconhecidos e
valorizados.
Ribeirão de “tantas histórias,
tantas questões” sempre presente em nossos corações.